30 junho 2009

O Velho e o Pé de Jabuticaba

E lá estava o velho senhor de barba branca, sentado no banco enferrujado embaixo da jabuticabeira, sempre no mesmo horário, com as formigas caindo no seu chapéu. Interessante como ele passava os dias lá, com o mesmo chapéu e os braços cruzados na frente da saliente barriga, parecendo aborrecido com a juventude impetuosa que passava e nunca, mas nunca demonstrava respeito.

A cara fechada, de quem não quer uma boa conversa, um bom papo. Era como quisesse ser invisível a quem passava. Com exceção do banco. Ele sempre ali no banco, sozinho. Nem tenta sentar aqui, dizia o olhar dele sempre que eu passava por lá. Olhar de velho astuto, que já viu gente demais passar pelo banco embaixo do pé de jabuticaba e tentar sentar ao lado dele e puxar conversa.

Fui-me embora dali e, uns anos depois ao retornar, não vi o velho ali. De repente morreu. Talvez tenha morrido de solidão. Nunca vi ninguém morrer acompanhado, também. Todo mundo morre sozinho, de uma forma ou de outra.

Cortaram a jabuticabeira, ou ela se foi junto com o velho, que parecia ter uma ligação com a bela árvore e as formigas que nela moravam. Ficou só o banco enferrujado. Sento ali pra relembrar os anos, e sabe, curiosamente me deu uma vontade de ficar...

Um comentário:

Amanda disse...

Memórias do futuro talvez?