27 abril 2007

Êta Paisinho Difícil

E eu pensando (atrasado): esses dias foi feriado de Tiradentes. E o povo brasileiro não se importa a não ser pelo contexto em que o dia está inserido: feriado. E a gente torce pra que o feriado caia numa terça, ou melhor ainda numa quinta (bate na barriga com as duas mãos e diz: essa semana eu só trabalho até meio-dia na quarta. Depois eu fico enrolando até as cinco). E se pergunta se é dia vinte e um ou vinte e dois de abril. “Sempre me confundo com a data do descobrimento...”.
E sai o brasileiro para o seu merecido descanso às cinco da tarde de quarta-feira. Merecido mesmo o seu descanso, porque trabalha-se duro e ganha-se pouco nesse país (como diria o político com uma súbita síndrome de sinceridade: “meu povo, a verdade é que vocês vão trabalhar como japoneses para ganhar como chineses”). Pega o carro e a esposa em casa e se atira pra praia!
Fugi do tema. E o Tiradentes? Bem, se Tiradentes tivesse um corpo inteiro para ser enterrado, o seu esqueleto na terra teria se remexido todos os feriados de lá pra cá. Nem curtiria um bronzeado maneiro da praia, tomando aquela gelada!
Tiradentes ficou sem um solzinho (nem feriado) por três anos antes de ser enforcado e esquartejado. Para servir como exemplo (e minha mãe sempre dizia: procura alguém que te sirva de bom exemplo pra vida). Exemplo de que não era permitido protestar contra a coroa Portuguesa. Lutava pela libertação do Brasil e protestava contra o imposto abusivo que Portugal cobrava sobre o ouro em Minas Gerais (com mais meia-dúzia de cabeças – o que nos remete também ao dedo-duro da época do império). E o imposto era realmente um absurdo. Vinte por cento. Caralho ô pá! Que roubo!
E o que tem o brasileiro a ver com isso? Nada. Brasileiro não paga vinte por cento de imposto em nada! Paga mais! Em tudo! Como exemplo posso citar alguns itens (que não são ouro, mas que são mais necessários que ele): a cerveja que eu tomo enquanto digito em meu computador: 56%. Tá certo, bebida alcoólica tem que ter imposto alto mesmo! – gritariam os puritanos. Mas e os puritanos que bebem água sabem o quanto se paga de imposto? Hein, hein? 45,11% numa garrafa. Orgulhem-se! Já é menos que a metade. E a gasolina que leva o brasileiro em direção as nossas belas praias no feriado (esse mesmo, o de Tiradentes) nos custa nada mais nada menos que 53,03%. E aposto que os puritanos curtem esticar uma praia no feriado com o seu carro a gasolina.
O feriado em que ninguém pensa o motivo pelo qual aconteceu (como tantos outros no Brasil) teve o intuito de fazer lembrar um cara que morreu há anos atrás para libertar um povo de um mal que já assombrava o país naquela época. O mesmo povo que hoje não dá a mínima (a não ser pelo feriado).
Me leva a refletir que o cara morreu em vão mesmo, porque além de ninguém honrar o motivo da sua morte, lembrar a data nem pensar. Mas não saber o nome do cara é o cúmulo. Acabei de ver na TV (parece mentira) a garota universitária no auditório do programa de TV, num desses de entrevista que passam de madrugada. O cara que conduz o programa pergunta à platéia: “Quem foi Joaquim José da Silva Xavier?” – e a garota demonstrando o seu alto grau de conhecimentos gerais responde (repito, parece mentira): “era o nome de Chico Xavier!” Caralho ô pá!
Agora eu pergunto: morreu enforcado pra quê?